Diz o povo, e com razão, “em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão”. Chegam-me notícias de muito ruído à volta da medicina dentária! Sinais dos tempos… Não é a primeira vez que acontece e, naturalmente, voltará a repetir-se. Mas antes de ir à carreira é preciso perceber e lembrar que carreira nós, médicos dentistas, temos feito por aí. O que fez cada um de nós para dignificar a nossa atividade e como temos exercido a medicina dentária. Vale talvez a pena refletir um pouco sobre isso.
A primeira imagem negativa da medicina dentária foi dada, no meu entender, pelos “dentistas caros”. Alguns, com certeza não todos, mas um bom punhado deles levavam aos utentes “coiro e cabelo”, não se pagavam do seu trabalho mas, em não poucos casos, extorquiam dinheiro aos utentes, tal era a exorbitância que cobravam pelos tratamentos… Claro, o fatinho Prada era caro e os bólides custavam muita massa. Um magnífico chamariz para chamar gente para a profissão e um excelente incentivo para a abertura de novas faculdades no país. Hoje em dia continuamos com a fama, mas lamentavelmente não temos o proveito. De facto não houve só dentistas caros, mas também erros caros que penalizam os jovens médicos dentistas que trabalham arduamente para terem um carro utilitário e, quiçá, um fatinho da Zara. Pela “ganhunça” de uns vieram a pagar os outros. Perdoai-lhes Senhor porque não sabem o que fizeram!
A segunda observação sobre o nosso percurso profissional, aplicando o exercício baseado na evidência, é que de “dentistas caros” passamos a “dentistas baratos”, com a agravante de ainda termos a tal fama de ricos e continuar a atrair jovens para a profissão. Atrevo-me até a afirmar que passamos a ser “dentistas em saldo”, a avaliar pelas quantias irrisórias que alguns seguros de saúde pagam pelos tratamentos. Até tratamentos grátis se fazem para se poder ter contrato com determinados seguros de saúde. Porque será que as aceitamos quando podemos dizer “não”?! Temos liberdade individual para tal… Passamos do oitenta ao oito.
Refiro agora aquilo que considero ser a condenável degradação do exercício profissional:
A exploração do médico dentista pelo médico dentista, violando as mais elementares regras morais e éticas que devem nortear o relacionamento entre colegas. Pagar 15 ou 20 por cento do trabalho realizado equivale em não raros casos a que o colega receba 4 ou 5 euros por tratamento efetuado! Estamos muito perto do trabalho escravo. Infelizmente…
E ainda há quem ache que ganhar 1600 euros num centro de saúde é pouco!
Voltarei à carreira (Pública). Até breve!