Margarida Carrilho
Médica dentista generalista na Dental Design Studio, Scunthorpe, Reino Unido
Qual a sua área de especialidade e porque escolheu essa área?
Sou médica dentista generalista e faço um pouco de tudo, nunca tenho dois dias iguais.
Como surgiu a oportunidade de trabalhar no estrangeiro? Onde trabalha neste momento e qual a sua função?
Vivo e trabalho em Scunthorpe, uma pequena localidade a noroeste do Reino Unido, para a empresa Dental Design Studio. A oportunidade surgiu através de um amigo da faculdade, que se encontrava a trabalhar aqui. Fiz a entrevista por Skype na Páscoa e mudei-me em setembro.
O que a fez tomar a decisão de sair de Portugal?
O descontentamento com a profissão no país, a falta de oportunidades e as ofertas quase obscenas de salários ridículos.
Quais as diferenças que encontra entre os métodos de trabalho nos dois países? Ou seja, como é um dia de trabalho normal?
Todas! Aqui os pacientes imploram por uma vaga nas clínicas, dentro do âmbito do NHS (National Health Service). Os pacientes têm incutida a rotina dos check ups anuais ou bianuais ou mesmo trimestrais, consoante as suas necessidades clínicas. O meu dia a dia é sempre diferente, mas constante no horário: entro às 9 h e saio as 17 h, com uma hora de almoço. Vejo cerca de 40/50 pessoas por dia (o que não é muito no NHS). Tenho sempre alguns tratamentos pelo meio, que podem ser tratamentos privados, mas a maioria dos doentes são apenas para check ups dentários. Tenta-se apostar muito na prevenção, na rotina de ir ao dentista para prevenir e não para tratar. Como tal, grande parte dos meus pacientes são crianças e jovens para quem a consulta de medicina dentária é gratuita. Se houver necessidade de tratamentos mais complexos tenho sempre colegas especialistas a quem posso referir para os mesmos, e damos sempre a opção do privado versus NHS. Trabalha-se muito assim e isso é uma grande mais-valia para os nossos pacientes, a quem tentamos dar sempre as melhores soluções possíveis.
Como é viver fora de Portugal? Conseguiu adaptar-se bem?
Vivemos num ritmo de vida diferente. Aqui acaba tudo muito cedo, não há a cultura de ir tomar um café, o que para mim é muito estranho. E claro, estamos longe da família, dos amigos. Há sempre dias mais difíceis. Acho que me adaptei bem, considerando que vim sozinha e deixei o meu namorado em Portugal. Manter a relação à distância não foi fácil, mas agora casámos e ele veio para cá, melhorou tudo. Ajuda muito fazer planos a curto prazo e ter os fins de semana ocupados. E claro, idas com a maior frequência possível a casa, nem que seja só por um fim de semana.
Quais os seus planos para o futuro?
Não gosto de fazer grandes planos. Vivo um dia de cada vez. Estou a pensar fazer um mestrado em odontopediatria brevemente.
Equaciona voltar a Portugal?
Tem dias que sim, outros que não, depende do tempo!
Se sim qual o trabalho/projeto gostaria de desenvolver?
Por agora, quando penso nisso, quase nunca me vejo a trabalhar em Portugal na medicina dentária.
Que conselhos dá aos recém-licenciados com dificuldades em ingressar no mercado de trabalho?
Não fiquem à espera de aparecerem pacientes num consultório de outros, como muitas vezes fiquei. Saiam, vão um ano que seja para fora, onde não faltem oportunidades. Trabalhem, ganhem mão e atendam pessoas.
Qual o seu sonho?
Trabalhar em Portugal como trabalho aqui.
Entrevista publicada originalmente na edição de março/abril 2019 da revista SAÚDE ORAL.