“Sinto que há uma enorme solidão na parte de gestão”, declarou Miguel Martins, presidente da Incisivos − Associação dos Empresários da Medicina Dentária, no âmbito da última mesa-redonda das Conferências Saúde Oral. “O que falta na formação em Portugal para garantir uma melhor preparação dos profissionais para os desafios laborais?” foi o tema que juntou ainda Nuno Araújo, professor na CESPU, e João Figueiredo, presidente da ANEMD.
“O que é mais comum nas pessoas que nos procuram é a sensação de estarem sozinhas quando têm de resolver algum problema das suas clínicas, referiu o presidente da Incisivos, Miguel Martins. A associação sem fins lucrativos reúne atualmente 184 clínicas e inclui médicos dentistas, higienistas orais e proprietários de micro ou pequenas unidades de medicina dentária, tendência que tem vindo a crescer.
Por sua vez, Nuno Araújo, que está há muitos anos ligado à área de gestão das clínicas, nota que “temos vindo a perceber que a área da gestão nas várias profissões de saúde é muito importante porque a realidade está diferente, existem inúmeros desafios do ponto de vista tecnológico, da comunicação, da partilha do conhecimento e os profissionais, quer do pré-graduado e pós-graduado, têm de encontrar respostas”. Com base numa análise estratégica que a CESPU tem vindo a fazer, existem ao dispor algumas formações executivas na área da gestão. “Temos tido um conjunto de profissionais da área da medicina dentária que especificam muito a realidade de gestão do setor.”
Para João Figueiredo, presidente da Associação Nacional de Estudantes de Medicina Dentária (ANEMD), a profissão de medicina dentária é muito reconhecida, não só no nosso País como fora de Portugal e partilhou alguns dados que considera importantes na realidade do que é ser jovem em Portugal atualmente: “Três em cada quatro jovens recebe menos de 900 euros mensais líquidos, 60% vive em casa dos pais e mais de metade não tem um local de trabalho estável e isto faz com que tenhamos de ser inteligentes para dar resposta a todas estas nuances.”
Para o estudante, apesar de tudo, há que ter um espírito de esperança. “Somos 3600 estudantes e na minha faculdade tenho a possibilidade de estudar a área de gestão e de construção de plano de negócios, mas reconheço que muitas faculdades não versam esta vertente”, explicou, defendendo que é preciso uniformizar e dar as mesmas possibilidades aos futuros profissionais da classe.
Miguel Martins abordou ainda o impacto do primeiro confinamento que obrigou algumas clínicas a fechar portas. “Ficou claro que muitas unidades não conseguem fazer face a esse encerramento, o que já por si, com uma gestão otimizada, seria difícil.” E alertou para o facto de muitas empresas terem deficiências básicas. “A gestão está toda inventada. Só temos de saber escolher os protocolos que querem usar nas suas unidades.” Seria importante apostar na antecipação de crises, afirmou.
“Enquanto universidade privada, estamos sempre muito atentos ao que poderão ser as necessidades dos profissionais. No setor da saúde com a concorrência que existe, com as questões de sustentabilidade em cima da mesa, com as necessidades de repensarmos as respostas deste sistema, o setor da medicina dentária tem um papel muitíssimo importante”, referiu Nuno Araújo.