O 1º Congresso Internacional da UNIPRO − que decorre nos dias 7 e 8 de abril, no Centro de Congressos da Alfândega do Porto − pretende resumir o estado da arte na patologia e reabilitação oral, com vista à discussão de questões emergentes nas ciências dentárias. Os avanços na investigação do cancro oral também vão estar em destaque no Congresso, com uma conferência internacional promovida pela OMS. O diretor da UNIPRO Luís Monteiro, em entrevista à SAÚDE ORAL, realça a elevada incidência do cancro oral em Portugal e a necessidade de aumentar ações para inverter esta situação.
A UNIPRO é uma Unidade de Investigação do Instituto Universitário de Ciências da Saúde (IUCS) criada em 2021 e dirigida ao estudo dos vários problemas e questões associadas às doenças e lesões orais. De acordo com o professor do IUCS e diretor da UNIPRO Luís Monteiro, esta unidade de investigação agrupa diversos projetos de investigação focados na biopatologia, diagnóstico e reabilitação nas várias áreas das ciências dentárias. “Das várias linhas de investigação destacam-se o estudo das alterações e doenças craniofaciais, da biopatologia e novas tecnologias no diagnóstico do cancro oral, no estudo de biomateriais e reabilitação oral, entre outras áreas. Esta é uma unidade integrativa multidisciplinar com vários investigadores não só da medicina dentária, mas também de áreas biomédicas, de bioengenharia e ou saúde comunitária que em conjunto promovem o aumento de conhecimento e transferência do mesmo para a sociedade na área da Patologia Oral e Reabilitação Oral”, explica Luís Monteiro.
Que expectativas tem para o 1º Congresso Internacional da UNIPRO? A quem se dirige e qual o seu principal objetivo?
Este congresso é o culminar da integração de trabalhos, projetos e linhas de investigação nas áreas da UNIPRO com interesse para a comunidade científica internacional. Neste sentido, este será um congresso com muitas novidades e comunicação do estado da arte padronizada pelos elevados padrões científicos internacionais fruto da cooperação e colaboração de vários centros de investigação nacionais e internacionais. Todos os investigadores, docentes, académicos, clínicos, ou discentes com interesse no estado da arte na patologia e reabilitação oral serão bem-vindos na integração e discussão das questões mais interessantes e algumas controversas nestas áreas das ciências dentárias.
“Esta conferência possui não só um papel de atualidade, mas também de possíveis futuras orientações e diretivas a sugerir em cancro oral.”
Que apresentações e oradores destaca neste congresso?
É extremamente complicado selecionar algumas das palestras ou oradores deste congresso uma vez que o programa é diverso e despertará certamente interesse de forma diferente nos conferencistas segundo a sua área de interesse. No entanto, podemos destacar alguns temas das palestras como “Temporomandibular disorders and Migraine: a genetic association”; “Orthodontic tooth movement with aligners: bioeffects and implications of photobiomodulation and vibratory stimulation”; Osteoimmunology, biomaterials and alveolar bone regeneration”; “Clinical studies in Implant dentistry “; “The incidence and trends of oral and oropharyngeal cancer in Europe”; Major risk factors and controversies in the causation of oral cancer; “Recent public health interventions in Portugal to control oral cancer: Screening & Early detection; Use of technology towards early diagnosis of oral cancer” or “Prognostic markers of oral cancer”. Muitos oradores internacionais e de diferences centros de investigação estarão presentes como, por exemplo: Teresa Pinho (UNIPRO); Miguel Alves-Ferreira (IBMC/i3S and ICBAS, UP); Cristina Manzanares (Universidade de Barcelona); Fernando Guerra (Universidade de Coimbra); Adalberto Miranda-Filho (IARC); António Mano Azul (Chief Dental Officer – DGS, Portugal); José Aguirre (Universidad del País Vasco EHU, Bilbao, Spain); Saman Warnakulasuriya (Kings college London e WHO CC), Miguel González-Moles (University of Granada, Spain), Hassan Bousbba (da UNIPRO) ou Pierre Saintigny (Centre Léon Bérard, Lyon, France).
A Conferência Internacional em Avanços na Investigação em Cancro Oral faz parte do programa do Congresso, acontecerá no segundo dia, e é promovida também pela OMS. Que importância tem a associação da OMS a esta conferência?
Esta é uma conferência especificamente organizada pelo Centro Colaborativo em Cancro Oral da OMS coordenada pelo professor Saman Warnakulasuriya e que nós temos o privilégio e a honra de acolher no nosso congresso internacional da UNIPRO. Estarão presentes experts na área convidados por este centro colaborativo da OMS com intuito de discutir e resumir o estado da arte nos vários tópicos de investigação em cancro oral.
Esta conferência será seguida de um conjunto de trabalhos de revisão sobre os vários temas abordados e posteriormente publicados em revista internacional. Desta forma, esta conferência possui não só um papel de atualidade, mas também de possíveis futuras orientações e diretivas a sugerir em cancro oral.
“Os doentes continuam a ser diagnosticados em estádios muito avançados levando a taxas de sobrevivência muito baixas.”
O que nos pode adiantar desta conferência?
Nesta conferência serão abordadas atualidades em fatores de risco de cancro oral nomeadamente discussão sobre o papel do álcool, da inflamação crónica além dos fatores de risco clássicos associados a este cancro. As características histopatológicas, que muitas vezes são controversas com dúvidas sobre a sua real importância ou significado como, por exemplo, o grau de displasia epitelial nas alterações potencialmente malignas, serão abordados e discutidos assim como a identificação de marcadores ou biomarcadores não só numa perspetiva histopatológica, mas também molecular.
Quais são as questões mais prementes na investigação do cancro oral?
Em primeiro lugar e dada a elevada incidência de cancro oral no nosso País, uma das questões principais incidirá na epidemiologia com a discussão de estratégias para diminuir o número de novos casos de cancro oral e realizar o diagnóstico precoce da doença. Dentro deste objetivo, também serão abordadas novas tecnologias de diagnóstico que podem contribuir para uma melhor caracterização da presença de malignidade ou determinação de margens cirúrgicas de forma a melhorar o sucesso e prognóstico do doente. Por outro lado, serão discutidas várias linhas de estudo de etiopatogénese, nomeadamente da compreensão de modelos de carcinogénese oral cuja visão tem mudado recentemente de modelos lineares para modelos mais multifatoriais centrados na integração da genómica dinâmica com o ambiente. O estudo de novos biomarcadores de diagnóstico e prognóstico de cancro oral e alterações potencialmente malignas serão igualmente abordados tentando ajudar a definir estrategicamente a melhor orientação terapêutica para o doente oncológico.
“Se na generalidade a taxa de sobrevivência de doentes com cancro oral se situa nos 45% aos 5 anos de seguimento, nos estádios mais avançados poderá ser mesmo inferior a 20%. Estes resultados na nossa população, são o espelho da necessidade de aumento de capacidades, condições, conhecimento e ações para inverter esta situação.”
Que impacto tem esta doença em Portugal? E que respostas são fornecidas pelas principais entidades/instituições na área da saúde a esta patologia?
Infelizmente Portugal tem sido um dos países com maior expressão de cancro oral nas últimas décadas. Portugal tem mostrado um aumento significativo do número de novos casos e continua a ser o País do sul da Europa com maior incidência segundo dados da IARC. Adicionalmente, os doentes continuam a ser diagnosticados em estádios muito avançados levando a taxas de sobrevivência muito baixas. Como exemplo, se na generalidade a taxa de sobrevivência de doentes com cancro oral se situa nos 45% aos 5 anos de seguimento, nos estádios mais avançados poderá ser mesmo inferior a 20%. Estes resultados na nossa população, são o espelho da necessidade de aumento de capacidades, condições, conhecimento e ações para inverter esta situação. É também, neste sentido, que a unidade de investigação da UNIPRO do IUCS tem como um dos principais objetivos a compreensão dos fatores que levam a esta situações e pelo outro lado criar formas de melhorar e alcançar melhores resultados nomeadamente para a nossa população. O painel de palestrantes e intervenientes nesta conferência ajudará a alicerçar a discussão e promoção de investigação nestas áreas com este mesmo objetivo de promoção de saúde e melhor qualidade de vida das nossas populações.