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Saúde Oral

“A formação que aposta na diferenciação!”

“A formação que aposta na diferenciação!”

Este é o mote da iniciativa criada pelo médico estomatologista, Tiago Fonseca, e o médico dentista, Pedro Barroso Moreira, que pretende explorar a formação na área da cirurgia oral. O primeiro curso − Cirurgia de Terceiros Molares e Regeneração Tecidual Guiada é dedicado a médicos dentistas, começa já em maio e terá a duração de três dias. Em entrevista à SAÚDE ORAL, Tiago Fonseca fala sobre o projeto e a importância da temática da cirurgia de terceiros molares para os profissionais de medicina dentária.

Recentemente lançou uma iniciativa na área da cirurgia oral: “A formação que aposta na diferenciação!”. Como surgiu este projeto e onde pretende chegar?

“A formação que aposta na diferenciação!” é, de facto, o slogan do curso Cirurgia de Terceiros Molares e Regeneração Tecidual Guiada, uma iniciativa que criei em conjunto com o Dr. Pedro Barroso Moreira. O curso, que decorrerá nos dias 22 de maio, 12 de junho e 3 de julho, é algo que já vínhamos pensando – mas sempre adiando – e agora, apesar da pandemia, decidimos avançar. A ideia pareceu-nos natural dada a excelente colaboração que temos tido e que começou no dia 7 de fevereiro de 2013. Nesse dia reunimo-nos e decidimos formar parceria, mas foi a 8 de março, desse mesmo ano, que realizámos as primeiras cirurgias. Ao longo destes oito anos, com mais de 100 cirurgias realizadas, temos vindo a fortalecer a relação profissional e a aprimorar a sintonia cirúrgica.

To infinity… and beyond!” é uma frase que, penso, se aplica bem aqui. É, tão somente, mais uma etapa de cada um dos nossos percursos, pautados pela procura do saber e do saber fazer. E que, neste âmbito, se reforçam até. Não deixa de ser um pequeno passo que, espero, se transformará num salto gigantesco.

 

O curso “Cirurgia de Terceiros Molares e Regeneração Tecidual Guiada” vai começar já em maio. A quem se destina e como vai ser estruturado?

O curso destina-se, invariavelmente, a médicos dentistas. (Claro, não vedamos a formação a estomatologistas ou cirurgiões maxilo-faciais, mas, sobretudo pela extensa formação que os profissionais de cada uma destas áreas de conhecimento têm no âmbito das respetivas formações − o internato médico − estamos cientes que acolher pessoas destas duas especialidades não ocorrerá). Temos a capacidade para receber seis formandos.

O curso alia a formação teórica à prática clínica em três módulos mensais, com o desenvolvimento de autonomia crescente relativa ao planeamento e remoção minimamente invasiva de terceiros molares, complementada com o conhecimento das mais-valias associadas à regeneração tecidual com o uso de um material natural e biocompatível. Cada módulo é constituído por um dia, mais especificamente por oito horas de formação teórico-prática.

Em cada um dos três dias existem três aulas teórica e três cirurgias. As duas aulas teóricas no início de cada dia possibilitarão a agilização da logística da cirurgia da manhã (e das duas da tarde). Ora, depois da formação teórica, segue a primeira intervenção cirúrgica. Os formandos, já em dois grupos, ficarão adstritos ao Dr. Pedro (numa sala) ou a mim (noutra sala). Aqui ocuparão posições definidas, com funções na preparação da fibrina, na cirurgia propriamente dita e na documentação por fotos e/ou vídeos. A segunda e terceira cirurgias servirão para alternarem posições/funções. E, no final do dia, decorrerá a terceira aula.

Dada a necessidade – e as vantagens! – da constituição de dois grupos, os elementos de cada grupo trocam de formador no segundo módulo. (E também com isto há benefícios pedagógicos). Mas a estrutura mantém-se: cada formando terá a sua posição/função específica nas cirurgias, “rodando” ao longo do dia. O terceiro módulo terá uma estrutura personalizada, de acordo com o interesse e as competências de cada formando, coordenados com o interesse e as competências dos restantes formandos… E, muito importante: todas as cirurgias incluem discussão prévia do caso clínico e revisão subsequente da intervenção realizada!

O que motivou a escolha do tema?

Em medicina, há uma máxima que diz: “o que é comum é comum, o que é raro é raro”. Em estomatologia/medicina dentária, as alterações da erupção dentária são frequentes e, deste grupo nosológico, os terceiros molares são os dentes mais atingidos. Perante um oitavo malposicionado, a intervenção mais comum é a extração, sendo que a exodontia cirúrgica é a técnica envolvida na quase totalidade dos casos. Portanto, pensando em termos estatísticos, fomos pela moda…

Por outro lado, a cirurgia de terceiros molares é um dos procedimentos profiláticos ou terapêuticos que mais dúvida ou receio suscita. Para tal concorrem os riscos e possíveis complicações da intervenção, bem como a eventual patologia associada, além da escassa formação prática pré-graduada atual. Aqui pensámos e dirigimo-nos exclusivamente à medicina dentária, particulamente aos profisssionais recém-formados e/ou àqueles com prática dita “generalista”.

Mas, para não se “cair no banal”, quisémos aliar a capacitação ou o aperfeiçoamento técnico da prática de extração cirúrgica de terceiros molares à diferenção da utilização da fibrina rica em plaquetas e leucócitos (Leucocyte-Platelet Rich Fibrin, L-PRF) e da sua mais-valia na cicatrização do osso e dos tecidos moles peri-dentários. Enquanto técnica simples, segura e comprovada de alto potencial reparativo, aplicável em cirurgia oral, entendemos por bem incluí-la na escolha sobre o tema de base.

Quais são os principais riscos desta intervenção?

A cirurgia de terceiros molares, como qualquer intervenção cirúrgica, apresenta riscos e pode originar complicações. Por uma questão de sistematização temporal, podemos dividi-los em intra-operatórios e pós-operatórios. Mas uma sistematização etiológica permite considerar riscos/complicações gerais e riscos/complicações individuais. Os primeiros, por sua vez, podem ser transversais a qualquer incisão – como a hemorragia ou a infeção – ou derivados da utilização de instrumentos rotatórios pneumáticos – como o enfisema mucoso ou cutâneo ou a necrose óssea ou gengival. E, como em qualquer exodontia, pode ocorrer a fratura radicular e a lesão de dente adjacente durante a intervenção; ou a alveolite e o trismo no pós-procedimento.

Os segundos, esses, são específicos, caso se trate de um terceiro molar superior ou um terceiro molar inferior. Tal como na implantologia, quando se pensa no setor posterior da maxila pensa-se no seio maxilar; e quando se considera o setor homólogo da mandíbula considera-se o nervo alveolar inferior (NAI). E, portanto, i) a possibilidade de fratura da tuberosidade maxilar e, consequentemente, a deslocalização do oitavo para o seio maxilar ou para o espaço pterigo-maxilar, ou ii) a hipótese de lesão do NAI (e do n. lingual) e, consequentemente, a anestesia/hipostesia/parestesia associada, são sempre situações que exigem 1º) a avaliação correcta, 2º) a informação (ao doente) adequada e 3º) a execução criteriosa.

Pretendem continuar esta iniciativa dos cursos de cirurgia oral e abranger a outras áreas?

Sim, sem dúvida! A cirurgia oral, ou cirurgia oro-maxilar, é uma área que pretendemos explorar. Como referi atrás, a exodontia cirúrgica de terceiros molares é um dos tipos de cirurgia mais frequentes em saúde oral. Mas, naturalmente, existem outros grupos de intervenções cirúrgicas. Desde logo, as extrações de outros dentes malposicionados/inclusos (ex.: caninos). Mas estes dentes, mesmo inclusos, poderão não ter de ser removidos. E, portanto, a ulectomia para tração ortodôntica é outro tipo de cirurgia relativamente comum. Ou, ainda no âmbito de um tratamento ortodôntico, a corticotomia ou a disjunção palatina (a última relacionada com casos de dismorfia dento-facial associada, ou não, a cirurgia ortognática).

Mas existem cirurgias “não exclusivamente dentárias”. Há várias lesões (intra-)ósseas – associadas ou não a dentes – que requerem terapêutica cirúrgica. Aqui incluem-se, fundamentalmente, os quistos ou as lesões “tipo quisto”. Os quistos odontogénicos do tipo inflamatório são, sem dúvida, os mais frequentes. Mas também existem os quistos dentígeros, os quistos de desenvolvimento ou os queratoquistos. Ou os granulomas (centrais) de células gigantes ou os ameloblastomas, mais raros. Tudo lesões que necessitam de exérese (naturalmente, com técnicas diferenciadas pela natureza, número, localização e dimensão da lesão). E também se pode incluir a apicectomia, técnica cirúrgica igualmente de prática frequente.

Depois existe a “cirurgia de tecidos moles”… As “meras” biopsias (de glândulas salivares menores ou de lesões suspeitas de neoplasias, por exemplo) ou a excisão de lesões muco-gengivais, de natureza variada, em localização diversa e com dimensões amplas. Aqui pode incluir-se o fibroma ou a epúlide. Ou na área da patologia salivar, o mucocelo. (Outras intervenções em glândulas salivares são mais específicas.) Portanto, e para concluir, esperamos que esta seja a 1ª edição de muitas. Existe uma curva de aprendizagem em tudo e pretendemos auscultar a possibilidade de abrangermos outras áreas e outros níveis de especialização técnico-científica. Começa por este curso: “A formação que aposta na diferenciação!”.

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